domingo, 7 de agosto de 2016

De onde veio esse E.T?



De onde veio esse E.T?
             Tem aquela rua ali. Ela desce, mas não é tão íngreme. Tem um portão no começo. Alto, de ferro. Um grande, para os carros, e um pequeno para nó: pessoas, humanos, cachorros.
                No portão grande. tem uma placa, escrito ATENÇÃO, ABRE PARA FORA. E uma ver ou outra, de anos em anos, uma ou outra placa de ALUGA-SE, e mais raramente ainda: VENDE-SE.
                  Olhando lá de cima, parece uma rua normal. Cassa com garagens, ou com carros parados em suas portas. Casa de cores normais: brancas, beje, laranjas, amarelas... Todas aparentam serem sobrados.
                Mas tem algumas, lá no meio, que só tem o térreo mesmo.
                Muros; portões; portas; janelas; telhados de telha, e de aluminio. 
                É uma rua; Apenas.
                  Árvores; paralelepípedo; asfalto. Calçadas de piso, e de cimento.       
                  É uma rua; Apenas.
                Mas vá descendo. Se tiver coragem, passe o portão. Peça para o porteiro abrir, de sua "casinha", o portão grande. Ou enfie a mão pelo buraco do portão pequeno, assim, girando a chave.
                  Vá; desça.
                  Quanto mais você descer nessa rua, mais diferente das outras ela vai ficando. 
                  Há crianças brincando. Correndo; pulando; se escondendo. 
                  Em uma das casas - você pode reparar - há um sofá velho, azul. E no quintal dessa casa, três árvores de pequenos frutos laranjas, que dependendo da época do ano, as crianças pegam para jogar umas nas outras, assim, fazendo uma "guerra de coquinhos", que é como elas chamam as frutinhas. 
                Se contarmos, tem 31 casas nessa rua; e em meados de Julho, podemos ver uma grande fogueira lá em baixo. Bandeirinhas de revistas velhas, feitas pelas crianças, que correm de um lado para o outro, enquanto os adultos conversam em mesas, tomando vinho quente de uma vizinha portuguesa - a Festa Junina.
                Pelo meio da rua, mais ou menos, no chão, tem um desenho difícil de se decifrar. Desenhado com tinta branca, e escrito "E.T", ao lado.
                  E lá no fundo, no fim da rua... um muro. De fundo branco. Com várias mãos de tinta, de tamanhos e cores diferentes. Frases, e desenhos.
                    Tem aquela rua ali. Ela desce, mas não é tão íngreme. Tem um E.T. Um muro colorido; crianças na rua; um sofá velho, azul; e pequenos frutos laranjas.            
            
           
   

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Óculos

                   Óculos

           Minha mãe usa óculos. Meu pai deveria usar. Minha avó? Ela usa lente. Tenho 5 irmãos, dos quais 3 usam óculos tambem.
             Pois é; obviamente, sendo assim, eu também uso.
            Passei a usar com 8 anos, lembro-me do meu primeiro óculos. Era um rosa claro, meio transparente, e de formato retangular; amei usá-lo. Adorava.
            Desde então, sempre uso óculos, não consigo ler,de perto ou de longe, ou até mesmo indentificar pessoas de longe sem ele.
            Tenho muita olheira; roxa, profunda; elas marcam muito meu rosto. O óculos, que agora eh meio quadrado, e grande; azul marinho, rosa claro por dentro.
            O óculos desfarsa
            "Eu não nasci de óculos; eu não era assim não"
             Acham que o óculos da charme de intelectual; será mesmo? Talvez, as vezes; as vezes não
             "Se eu to feliz eu ponho os óculos e vejo tudo bem; mas se to triste eu tiro os óculos, eu não vejo ninguem"
             Sempre amei essa frase; óculos faz com que nós, intelectuais vistos como intelectuais apenas pela armação em nossos olhos, ou não intelectuais vistos como tais, enxergarmos; é uma ajuda; nossa ajuda. Mas também funcionacomo saída de incendio
              Se você usa óculos, não fique triste, pode ser seu charme; sua ajuda; sua ligação genética com o resto da sua familia.. E também sua saída de incendio..

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Meu Nome é Khalil

Meu Nome é Khalil

Meu nome é Khalil. Eu tenho cinco anos.
Nasci em Palmira, uma cidade que fica na Síria. Minha mãe e meu avô contavam histórias de quando Palmira era um lugar bonito. Quando eu tinha até quatro anos, essas histórias serviam para eu dormir. Mas como mamãe diz, quando eu fiz cinco, virei um menino grande, e comecei a fazer perguntas sobre a guerra... e principalmente sobre papai.
Minha casa foi destruída quando eu ainda era um bebê. Nunca vi minha cidade, nunquinha, só na minha imaginação, lá é um lugar bem bonito.
Mamãe diz que papai era um homem corajoso e bonito, que nem eu. Ele morreu quando nossa casa foi atingida por uma bomba... Acho. Eu não entendo isso! O que fizemos para sermos tratados assim?!
Ele estava tentando proteger a mamãe, eu e o vovô. Eu ainda era um bebê de colo, por isso não lembro de nada.
Logo depois disso, fomos presos. Na verdade, foram alguns anos depois... Não tenho muita noção de tempo.
Fomos presos em um lugar super apertado. Eu fiquei com a mamãe, mas fomos separados do vovô.
De noite, mamãe continuava contando histórias da minha cidade natal, e eu dormia. Mas às vezes eu não conseguia dormir, e via aqueles homens maus que nos prenderam aqui em cima da mamãe.
Precisava proteger ela, então me levantei, mas Tamires, uma menina com uns onze anos me segurou... Depois eu dormi. Ainda não entendo direito o que tinha acontecido. Mas mamãe não estava feliz. Ela estava sofrendo. Isso eu sei.
Uma noite, eu dormi lá, e quando acordei, estava no mar. Com mamãe, vovô, Tamires, os pais dela, e Piteu, um menino da minha idade. Me falaram que fugimos, por pouco. Mas não me contaram como... Tudo bem! Desde que mamãe não sofra mais!
Agora, está completando oito dias no mar. Vovô caiu, estava sem forças. Piteu não comia, e uma noite ouvi mamãe e o pai de Tamires falando sobre “depressão”... Não sei o que é isso... O pai de Tamires se jogou no mar. Um covarde, mamãe diz. Eu também acho.

Tento não entrar em desespero. Tenho cinco anos, sou um menino grande. O único homem aqui. Vou proteger elas. Mamãe, Tamires, Piteu, e a mãe de Tamires. Vou proteger elas, sou corajoso e bonito, igual ao papai. E ainda vou salvar todos. TODOS.

sábado, 4 de junho de 2016

Espero

Espero

Sentada em uma das mesas do Starbucks, espero meu pedido chegar. Antes, eu estava em pé na fila; mas então, depois de mais ou menos 10 ou 15 minutos no mesmo lugar, meus pés e minhas pernas começaram a doer, então troquei de lugar com a minha mãe, e fui sentar.
Vim para o cinema com a minha mãe, assistir "Alice Através do Espelho", por motivos muito simples: 1 - Johnny Depp 2 - Andrew Sccot 3 - eu queria ver por que assim, eu li o livro, e queria ver o que tinham feito dessa vez (ps: não tem nada a ver com o livro, igual ao Alice no País das Maravilhas).
A mesa é pequena e redonda, de madeira. Em cima dela, apenas os brownies, um de chocolate amargo, e outro de chocolate com doce de leite. Tento me conter a pegar um e dar a primeira mordida.
A fila para pagar fica cada vez maior, e a de pegar o que pediu também. Um pouco mais tarde e a gente já teria desistido e pegado um sorvete do Mc.
Em volta, tem algumas mesas iguais à a que estou, onde se sentam vários casais. Em um pequeno sofá, um casal de gays, com os frappuccinos acabados ao lado. Eles se beijam. É o terceiro casal homossexual que vejo no shopping. Um casal de gays na sala do cinema, um de lésbicas na livraria, e agora esse. Parece que cada vez mais aparecem. Eles estão se libertando, acho. Acho isso legal.
De repente, a ideia de estar rodeada de casais, e estar com a minha mãe me machuca um pouco. Não sei por que, mas ao menos ela estivesse aqui comigo... mas enfim, esse texto não será um dos mil que tenho sobre minha horrível vida amorosa. (Ou trágica, depende do ponto de vista).
Discretamente (só que não) observo o casal. Os dois aparentam ter uns 15 ou 16 anos. Um deles tem os cabelos espetados e azuis. Me lembra algum personagem de anime. Usa uma camiseta preta, calça jeans, e all star preto. O outro tem o cabelo enrolado e loiro, claramente pintado, dando para ver fios pretos perto da raiz. Veste camiseta de tie dye, bermuda jeans esbranquiçada, e All Star de cano alto azul.
Eles se separam um pouco, e o de cabelo azul sussurra alguma coisa para o outro, que sorri. Então, ele olha para mim, e seu olhar se fecha um pouco, e ele se separa mais do outro, que vira para trás e me olha. Os dois fecham a cara; devem achar que os observo com algum tipo de desgosto, ou simplesmente não gostam que sejam observados (o que entendo totalmente).
Abro um sorriso, como um pedido de desculpas, e eles abrem um leve sorriso e voltam a se beijar.
Abro um dos mangás que comprei na livraria, e coloco os fones para ouvir My Chemical Romance.
Não sei quanto tempo passou, já estava na metade do mangá, e minha mãe veio, com os dois frappuccinos. Fechei o mangá e tirei um dos fones, e dei a primeira mordida no brownie. Sim, era tão bom quanto eu achava que era.
Dou o primeiro gole no frappuccino... e esqueceram o café.





quarta-feira, 1 de junho de 2016

Saida

Saída

          Quinta feira a tarde, sento no banco vermelho na entrada da escola. Fico lá sozinha, meus amigos estão na aula de educação física, que não posso fazer. Enquanto espero minha mãe para me buscar e ir para a terapia, observo as crianças. É hora da saída delas.
         Em um canto, um menino que deve ter uns 7 anos lê um livro ilustrado do "Clifford, o gigante cão vermelho". Ele tem cabelos pretos e espetados, olhos meio puxados e caídos, e as roupas de frio engordam seu corpo magro.
          No outro canto, uma rodinha de meninas, com um meninas, e um menino brincam de jogos de mãe, como "popai", "babalu", e "nós as quatro".
           Espalhados, há crianças brincando de pega-pega, carrinho, boneca, e outras mostrando um desenho ou um trabalho feito em aula umas para as outras.
          E, em um banco de madeira, uma menina dorme no colo de uma professora. A menina está com os cabelos loiros e lisos espalhados pelo rosto. O casaco rosa choque está um pouco levantado, e dá para ver uma camiseta, rosa também. As bochechas estão vermelhas do frio, e ela usa calça leggin cinza. Deve ter uns 5 anos.
         Então, chega o primeiro pai. Uma menina o vê. Ela tem cabelos enrolados e pretos, assim como ele. Olhos verdes e grandes, iguais aos dele. Sardas. O pai não tem sardas. E é magra. Ele também. A menina sai correndo, gritando "papaaiii", e se joga nos braços dele, que a abraça e diz "Ei, pequena! Como foi a aula?". A menina começa a contar sobre as coisas que ela fez. Os desenhos, leitura de fábulas, e brava, conta do menino que puxou o cabelo dela no recreio.
          Os dois vão embora, de mãos dadas. Isso me lembrou minha primeira escola, o grão. Nós subíamos em uma árvore que tinha, e víamos os pais chegando.
          Depois, foi chegando mais pais e mães. As crianças, assim que os viam, corriam até eles para abraçar e contar sobre tudo. 
          Os desenhos. As leituras de fábulas. A nova palavra que aprendeu. O que comeu na cantina. Tudo.
           Agora minha mãe chegou. Levanto do banco vermelho, e passo pelo meio dos abraços e beijos.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Sempre

            Sempre

     Me debruço na sacada, ignorando as constantes advertências de minha mãe de quando morava com ela: "Não se debruce assim, menino" Vai cair desse jeito!" Sinceramente? Não me importo. E daí se eu cair? Moro no terceiro andar; sobrevivo. E se não sobreviver, e daí? Esse mundo não tem graça. Quem sabe a Morte não divirta as coisas um pouco?
     Olho o horizonte. Prédios, prédios e mais prédios. Nenhum campo aberto para jogar bola, empinar pipa ou andar de carrinho de Rolimã, como meu pai dizia fazer quando menino. Quem me dera ter tido uma infância assim...
     Volto a me debruçar, e olho para baixo. Observo o homem que passa do outro lado da rua. Ele sempre passa aqui nesse horário, 19h58. Ele é bem gordo, e usa roupas formais. Seu andar é rígido, com os braços retos ao lado do corpo, indo para frente e para trás, as mãos levemente fechadas, e os passos largos, duros, e certeiros, como se marchasse.
    Já o perdi de vista, o que significa que são 18h. E por isso, olho o prédio da frente, em uma das janelas do quarto andar, que sempre está aberta.
     Fico olhando, esperando. E... pronto. Lá está ela, andando por seu quanto. Seu corpo tão belo. Os seios salientes, pernas e braços finos, porém firmes. Anda até o armário, e pega uma camisola. Dessa vez é rosa.
     Então, ela sai do campo de vista que tenho pela janela, o que significa que acabou meu "tempo de descanso".
     Saio da sacada, o que deixaria minha mãe aliviada, e volto aos estudos da da faculdade.
     Sim... esse mundo é muito sem graça.

Caminho

                                                         Caminho

     Eu andava por aí. Sem onde ir, sem o que fazer. Não sabia de nada; Não entendia.
     Eu andava, e andava. Andava, e pensava. Pensava em tudo, e em nada. Pensava em por que o mundo é assim. Pensava em qual era o sentido daquilo, de viver. Por que não sabia. E ainda não sei.
     Eu andava, e via as pessoas na rua. Uma mulher levando uma menina, as duas de mãos dadas, andando como eu. Será que elas tinham onde ir? Será que sabem o sentido? Não acho que alguém saiba... 
      Andei mais, e passado alguns minutos, passei por duas pessoas. Elas dançavam.Pareciam melancólicas. Fiquei imaginando o sentido da melancolia. Imaginei vários, mas nunca soube ao certo qual era.
      Passei por outras pessoas, mas acho desnecessário falar delas. Nenhuma me chamou atenção; e ninguém reparou em mim. Eu entendo isso; Afinal, para que reparar em um menino encolhido, andando sem destino com as mãos enfiadas nos bolsos?
     Esse menino, que apesar de tão novo, se questiona tanto, e já não entende para que isso. 
    Questiona o sentido de acordar. De comer. Falar. Chorar. Dormir. Sorrir.
     Eu andava. E andando, pensava. Pensava em tudo, e em nada. Pensava no sentido de tudo aquilo. No sentido de viver. No sentido de andar.